Auto da Barca do Inferno

Consideras que a máxima latina“Ridendo castigat mores” pode ser aplicada ao Auto da Barca o Inferno?

De facto, esta máxima latina pode ser aplicada ao texto dramático Auto da Barca do Inferno.
Gil Vicente, através deste auto, consegue provocar o riso (ridendo) aos seus ouvintes/espectadores, e, através de alguns recursos utilizados, criticar e corrigir os costumes (castigat mores) das classes/grupos sociais/profissionais da época (finais da Idade Média).

Efectivamente, através da linguagem utilizada, o autor provoca o riso, servindo-se, para isso de recursos como o calão, os cómicos de linguagem, carácter e de situação, bem como de figuras de estilo como a ironia e o eufemismo, critica também as personagens-tipo (que representam uma classe social/Profissional) da época.

Joane, o Parvo, é uma personagem que tem a função de provocar o riso (ridendo), pois como era parvo ninguém lhe ligava, podendo insultar quem chegava ao cais. Era ele também que substituía, muitas vezes,o Anjo na crítica às personagens.

Para corrigir os costumes (castigat mores), Gil Vicente recorre a argumentos de acusação e de defesa que são proferidos, os primeiros, pelo Diabo,pelo Anjo e, por vezes, pelo Parvo; quanto aos segundos, proferidos pelas próprias personagens.

Os símbolos cénicos que as personagens levavam para o cais, funcionavam como elementos autocaracterizadores. O Fidalgo, representante da Nobreza, levou consigo uma cadeira de “ espaldas” (que simbolizava a preguiça e a falsa vivência religiosa), um manto (que simbolizava a vaidade e superioridade) e um pajem (que simbolizava a exploração das classes mais desfavorecidas).
Realmente, estes são alguns elementos dos quais o autor se serve para aplicar esta máxima latina ao seu auto de moralidade.

Pedro Nogueira